Iara!

A Iara é uma figura do folclore brasileiro, uma sereia conhecida como mãe d'água, que habita rios e lagos. Ela é descrita como uma mulher de beleza deslumbrante, com cabelos longos e pretos, olhos castanhos e corpo metade mulher, metade peixe. A lenda da Iara tem origem indígena, mas foi enriquecida com elementos da cultura europeia durante a colonização portuguesa. A lenda da Iara é contada de diversas formas, mas geralmente envolve sua beleza hipnotizante e seu canto irresistível, que atraem homens para as águas, onde ela os leva para o fundo do rio ou lago, afogando-os. Alguns dizem que a Iara protege a natureza, enquanto outros a veem como um ser perigoso e traiçoeiro. Apesar de sua origem indígena, a lenda da Iara foi influenciada por outros seres mitológicos, como as sereias gregas e as mouras encantadas portuguesas. A figura da Iara é frequentemente associada à Iemanjá, orixá das religiões afro-brasileiras, e a outras entidades femininas ligadas à água.

Iara: Origem

Apesar de todos os elementos indígenas na lenda da Iara, a origem dessa lenda não é indígena, mas europeia. É o que aponta o folclorista e antropólogo Luís da Câmara Cascudo. Segundo ele, a lenda da Iara teria sua origem na Europa, estando presente, por exemplo, na tradição cultural dos gregos e dos portugueses. A lenda, então, teria sido trazida possivelmente durante o período da colonização e assumido elementos da cultura indígena. Segundo esse antropólogo, essa lenda não estava presente na cultura indígena até o século XVII, pois, até então, não havia nenhuma lenda indígena que apresentava os elementos que caracterizam a Iara. A origem da lenda da Iara pode ser traçada na Grécia, local onde havia a crença na existência das sereias, seres que seduziam os homens com um belo canto. Entretanto, as sereias para os gregos eram parte mulher e parte pássaro. A forma de peixe da sereia só surgiu em Portugal, por volta do século XV. Em Portugal também existia um ser mítico conhecido como moura encantada. Esse ser tinha a forma de uma bela mulher e oferecia riquezas para seduzir os homens. Acreditava-se que as mouras encantadas eram filhas de reis e príncipes mouros que protegiam as riquezas que eles deixaram para trás. Elas cantavam com o intuito de seduzir um homem que quebrasse o encanto que as prendia nessa condição.

Em Portugal também se estabeleceu a crença na sereia, ser mítico que seduzia os homens com sua voz encantadora. Essa lenda, trazida ao Brasil pelos portugueses, teria sido relacionada pelos próprios portugueses com algumas lendas indígenas. A primeira dessas lendas teria sido a do Ipupiara, uma lenda que menciona um monstro que habita os rios e que saía deles para caçar e matar indígenas. Entretanto, o Ipupiara não possuía forma humana, mas somente de monstro. O Ipupiara, no entanto, não possuía nada em comum com Iara, além de ambos residirem no rio. Essa associação da Iara com o Ipupiara foi realizada pelos portugueses e só foi possível pelo desconhecimento que eles tinham da cultura indígena. Outra lenda indígena que foi associada com a Iara foi a da cobra-grande, também conhecida como Boiuna. A cobra-grande era uma cobra negra que habitava os rios, perseguindo os homens que ousassem cruzar os seus domínios. Não tinha forma humana e também não seduzia homem algum. Outra forma de enxergar essas relações é entender que a Iara pode ter se formado a partir da junção dessas diferentes lendas. A sereia portuguesa já era uma adaptação da sereia grega e, chegando aqui, outras lendas, como a do Ipupiara e do Boiuna, podem ter fornecido elementos que resultaram na Iara. Mutos também entendem que a Iara possui elementos da cultura africana a partir da relação dela com a orixá Iemanjá.